Leôncio é o último irmão bombom nas ruas de Ribeirão Preto
Reprodução: ACidade ON
Leôncio é o último irmão bombom nas ruas de Ribeirão Preto

 *O texto faz parte do projeto Viva Ribeirão, que comemora os 165 anos de Ribeirão Preto 


O som ecoa no meio da rua e avisa: aí vem o pipoqueiro!  

O repertório é eclético, mas na hora de estourar os grãos, ele prefere música temática.  

- Pipoca, ah! Cheiro de pipoca tá rolando no ar! Pipoca, uôba! 

Vai cantando e dançando, para garantir que o milho se transforme em pipocas soltinhas e crocantes. 

Quando chega ao fim, o cheiro exala aos quatro ventos e quem passa já nem ouve a música, hipnotizado pelo perfume de pipoca quentinha.
Há quase 15 anos, Leôncio José do Nascimento, 41, é pipoqueiro no Centro de Ribeirão Preto. O trabalho nas ruas começou bem antes, porém. 

Leôncio é nome que quase ninguém conhece. "Irmãos Bombom" é quase impossível ribeirão-pretano não conhecer. 

O pipoqueiro é um dos três irmãos que cativaram gente de todas as idades vendendo doce e distribuindo bom humor. 

- A gente se fantasiava de loira do Tchan, Batman e Robin, caipira, Rosa e Rosinha, Papai Noel dançando malha funk. Passamos até na televisão! Todo mundo conhecia! 

O "Bala, bala chiiiiiiiiclete" virou jargão e era quase impossível resistir à propaganda. 

- A gente brincava: "13 bombons por um real e ainda leva um potinho para dar comida pro passarinho". Era barato mesmo! E Vendia! 

Josafá, Leonardo e Leôncio, os Irmãos Bombom, que vieram da Bahia sem qualquer rumo, viraram parte do cenário ribeirão-pretano. Leôncio continua levando alegria pelas ruas, inclusive em tempos de pandemia. 

Está sempre se reinventando, de acordo com as "tendências" que, agora, chegam primeiro na internet. A última é a dança do carpinteiro.  Leôncio também inventou seu próprio arrocha. Como garoto propaganda de uma sorveteria, se fantasiou e saiu pela rua engajando a freguesia. A luta de Leôncio é feita de muita garra, mas também de muito bom-humor. 

Paripiranga: cidade do interior da Bahia, próxima a Feira de Santana, que hoje soma pouco mais de 29 mil habitantes nas estimativas do IBGE. 

Quando Leôncio deixou sua terra, acompanhado dos irmãos, não sabia o que iria encontrar. Conta que escolheu Ribeirão Preto por indicação de um primo, que veio tentar a vida por aqui. 

Estudar era sonho distante na pequena cidadezinha baiana, que era só roça na época. E, então, a chegada a Ribeirão foi conturbada. 

- Não arrumava emprego de jeito nenhum, irmã. Porque eu não tinha estudo. 

Começou a vender linha de máquina nas ruas, junto com os irmãos. 

Logo, passaram para água, bombons, doces. 

O trabalho informal foi a única porta aberta que Leôncio encontrou. E desse caminho nunca mais saiu. 

- Para trabalhar na rua tem que estar sempre alegre, sempre sorrindo, nunca de cara feia. 

Desempenha o papel com maestria! 

Os irmãos levaram o humor para as vendas na época do "É o Tchan". O grupo de axé lançou a música "Bambolê" e o trio correu rumo a São Paulo, comprar brinquedos para vender. 

- Mas para vender, tinha que rebolar. Aprender a usar o bambolê. E a gente rebolava! 

O próximo passou foi comprar a fantasia de loira do Tchan e pronto: estava criada a nova forma de conquistar clientes. 

Não tinham nome, porém. Leôncio conta que a ideia veio de um menino que morava na rua.

- A gente vendia muito bombom na época e ele chamava a gente assim: Ô, bombom!".

Pegou. E ficou.

- Se falar que é Irmãos Bombom todo mundo sabe!

Hoje, Leôncio é o último dos irmãos nas vendas de rua. Diz que os outros dois estão na Bahia, sem data para voltar. Por enquanto, não pensa em seguir o mesmo caminho.

- Só Deus sabe até quando eu vou continuar. Eu gosto! 

Não é um pipoqueiro comum. Com tanta bagagem artística, nem conseguiria ser.

O carrinho de pipocas é todo adaptado: caixas de som, rádio que toca até pen drive, luzes para todo lado. Até uma televisão ele já instalou ali.

- Tem que ter o diferencial no atendimento.

Atende cantando, dançando e fazendo piada.

A menina pede uma pipoca, Leôncio pega um único grão com a mão e lhe entrega.

- Ueh, você não pediu uma pipoca? Eu dei!

O riso é geral.

Conta que com as vendas nas ruas conquistou casa e carro próprio, construiu família.

- Mas não são só as vendas. É a forma de vender. 

Sabe bem qual é o seu diferencial.

Vende, em média, 40 sacos de pipoca por dia.  

E come outros tantos.

- Eu adoro pipoca! Como tanto que à noite fico até sonhando com ela!

Sabe vender seu peixe. No caso, sua pipoca!

Se diz realizado. Feliz com o caminho que se abriu. Mas não esquece sua terra. 

- Um dia, a gente quer ir de volta. Morar lá de novo. Só não sei quando.  

O som ecoa no meio da rua e avisa: aí vai o pipoqueiro, com seu carrinho iluminado. 

Irmãos bombons tem o carinho da população de Ribeirão (Foto: História do Dia / Divulgação) OBS.: Foto feita antes da pandemia


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